O papel da comunicação na agenda climática: da narrativa à ação.
- Léo Ávila

- 14 de nov.
- 2 min de leitura

A agenda climática assumiu um espaço central nas decisões econômicas, políticas e culturais do século XXI. O que antes era tratado como tema ambiental, restrito a especialistas e organizações socioambientais, tornou-se elemento estruturante de desenvolvimento. Em negociações internacionais, em processos regulatórios, na formulação de políticas públicas e em estratégias empresariais, o clima deixou de ser um capítulo e passou a ocupar lugar de eixo. Esse movimento abre uma pergunta essencial: qual é o papel da comunicação nesse novo contexto?
A resposta vai além da divulgação de iniciativas socioambientais ou da construção de reputação. Em um cenário de transformação sistêmica, a comunicação cumpre função estratégica ao organizar sentido, conectar conhecimento científico à sociedade e criar as condições culturais para que mudanças aconteçam. Ela reduz assimetrias de informação, traduz complexidade e ajuda a alinhar expectativas entre governos, empresas, comunidades e consumidores. Em transições aceleradas como a climática, a capacidade de compreender riscos, interpretar sinais e construir consenso se torna tão importante quanto a capacidade de investir ou inovar.
Esse processo, no entanto, só se sustenta quando comunicação e território caminham juntos. A pauta climática não se desenvolve no vazio; ela acontece em lugares, com pessoas, histórias e formas específicas de relação com a terra, com a economia e com o futuro. A legitimidade de uma narrativa climática não se conquista apenas com dados e estratégias, mas com escuta, presença e responsabilidade. Reconhecer protagonismo local, incorporar saberes tradicionais e respeitar a diversidade de atores não é estética, é condição para que as soluções sejam justas e duradouras. Comunicação climática madura entende que falar sobre é diferente de falar a partir, e que credibilidade nasce de vínculo real com o território.
Ao mesmo tempo, a transição para uma economia de baixo carbono exige uma comunicação baseada em evidências. A sociedade passou a exigir clareza metodológica, transparência, métricas de impacto e accountability contínua. Relatos genéricos cedem espaço a indicadores, diagnósticos, plataformas de rastreabilidade e auditoria pública. Isso muda completamente o lugar da comunicação nas organizações: ela deixa de ser vitrine e passa a integrar processo, governança e estratégia. Ao invés de anunciar resultados isolados, instituições precisam compartilhar caminhos, aprendizados e limites, e isso exige maturidade narrativa.
O papel da comunicação nesse contexto é apoiar a tomada de decisão, fortalecer confiança e criar condições para cooperação e avanço coletivo. Ao oferecer compreensão, transparência e participação, ela evita polarizações improdutivas, amplia o engajamento qualificado e aproxima agendas que historicamente caminharam separadas, como ciência, mercado, política pública e sociedade civil. Essa é a transição que está em curso: de narrativas aspiracionais para processos comunicativos que ajudam a construir o que se anuncia.
A COP30, realizada na Amazônia, torna essa responsabilidade ainda maior. O Brasil tem a oportunidade de influenciar a arquitetura climática global, projetar um modelo de desenvolvimento próprio e demonstrar capacidade de integrar conservação, inovação, soberania e justiça social. Para que isso aconteça, a comunicação precisa ser mais do que anúncio, ela precisa ser ferramenta de coordenação, diálogo e visão compartilhada. Comunicar clima hoje não é convencer; é compreender, traduzir, discutir, incluir e orientar decisões.
Em um mundo que avança para a economia verde, onde reputação, território e impacto caminham juntos, a comunicação se confirma como parte essencial da transformação, da narrativa à ação, do discurso à implementação, da superfície à estrutura.




Comentários